CEOs infiéis têm dobro da probabilidade de trapacear no trabalho

Trair o cônjuge caminha lado a lado com fazer trapaças no ambiente de trabalho.

Essa é a conclusão de um novo estudo acadêmico que encontrou uma forte correlação entre o adultério e a má conduta no ambiente de trabalho por parte de executivos de empresas e consultores financeiros.

O estudo surgiu de uma maneira inusitada. Professores de finanças da Universidade do Texas, em Austin, e da Universidade Emory puderam estudar os clientes do Ashley Madison, um site de encontros para pessoas casadas que querem ter casos ou "encontros discretos", como descrito pela empresa. O acesso aos clientes foi possível porque a invasão de hackers em 2015 revelou os nomes e dados pessoais de mais de 30 milhões de usuários.

Os pesquisadores examinaram quatro grupos de usuários especificamente - um total de 11 mil corretores, executivos de empresas, criminosos de colarinho branco e policiais. O cruzamento de dados com registros públicos revelou que os clientes da Ashley Madison geralmente tinham duas vezes mais probabilidade de violar os códigos de conduta profissional em comparação com um grupo de controle, de acordo com os autores do estudo John Griffin, Samuel Kruger e Gonzalo Maturana.

"Nosso estudo indica que trapacear em um contexto leva à trapaça em outros", disse Griffin, que é especialista em investigação de má conduta em Wall Street. "Não estamos tentando debater ética ou dar sermão. Tudo o que estamos fazendo é examinar os dados, e os dados são bastante fortes."

Vida pessoal

As descobertas contribuem para o debate que por muito tempo foi considerado alheio às salas de diretoria: a vida pessoal dos executivos. Isso até a era MeToo, um movimento contra o assédio sexual que levou à renúncia de CEOs, como Les Moonves, da CBS, e Steve Wynn, da Wynn Resorts.

Os resultados foram razoavelmente consistentes nas quatro ocupações. Por exemplo, o estudo constatou que 4,1% dos indivíduos acusados de violar regras da Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos entre 2010 e 2015 tinham contas pagas no Ashley Madison. A parcela se compara a 1% do grupo de controle, que consistia em pessoas com histórico de carreira semelhante, mas sem acusações de má conduta.

CEOs e diretores financeiros apresentavam uma probabilidade duas vezes maior de incorrer em práticas financeiras irregulares ou ser o alvo de um processo de ação coletiva entre 2008 e 2014. Os corretores que tinham relações extraconjugais eram mais propensos do que o grupo de controle a ter registros de má conduta na Autoridade Reguladora da Indústria Financeira.

Os professores encontraram alguns obstáculos durante a pesquisa, como questões éticas sobre como usar os dados do Ashley Madison em primeiro lugar. Os pesquisadores concluíram que eram de domínio público. Além disso, o site, cujo slogan é "A vida é curta. Tenha um caso", tinha alguns usuários falsos. Por isso, Griffin e os coautores limitaram o estudo a clientes que tinham endereços correspondentes de números de cartão de crédito. Também não se sabe se membros do grupo de controle eram infiéis, apesar de não constarem na lista de usuários do Ashley Madison.

Mas Griffin está confiante nas descobertas, que serão publicadas na próxima semana pela Academia Nacional de Ciências.

"Se você é tolo em colocar seu nome em tal site, também é tolo o suficiente para cometer outros erros", disse Davia Temin, fundadora da consultoria de gestão de crises Temin & Co., em Nova York.

Para contatar a editora responsável por esta notícia: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net.


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